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Setembro Amarelo: suicídio se previne com acolhimento

No mês dedicado à prevenção do suicídio, precisamos encarar o assunto e entender o que leva as pessoas ao sofrimento existencial intenso

Setembro Amarelo

A cada 100 mortes no mundo, uma é por suicídio. No Brasil, uma pessoa põe fim à própria vida a cada 42 minutos. Foram 12.895 suicídios no país em 2020, e estimativas indicam que cerca de dez vezes mais pessoas tentaram. Em comum entre todos, está a dor.

“Precisamos fortalecer ações para a prevenção de processos autodestrutivos, principalmente o suicídio", afirma Karina Fukumitsu, psicóloga especialista em suicidologia.
 
É com esse objetivo que foi criado o Dia Mundial da Prevenção ao suicídio, realizado em 10 de setembro. No Brasil, desde 2014, o dia se estendeu para todo o mês, com a campanha Setembro Amarelo
 
“Para interromper os processos autodestrutivos, a primeira coisa que a gente precisa pensar é sobre prevenção”, diz Fukumitsu. “É o fortalecimento da saúde mental. Trabalhar com ações que façam sentido para cada pessoa. Acolhê-la em seu sofrimento e buscar alternativas junto com a pessoa para que ela possa se sentir parte do processo.”

 

Suicídio e por que chegamos ao limite

Embora ações como o Setembro Amarelo estejam, aos poucos, mudando o panorama, falar de suicídio ainda é tabu. Enquanto se evita o tema, as pessoas continuam optando por tirar a própria vida, com rápido crescimento no número de casos em jovens entre 15 e 29 anos. A sociedade precisa assumir a responsabilidade.
 
“A gente não pode culpar a pessoa por adoecer. O processo autodestrutivo não tem uma única causa, mas grande parte é resultante dessa falta de harmonia com outro e com o mundo”, afirma Fukumitsu. 
 
Os números demonstram os recortes sociais envolvidos no suicídio. Dados do Ministério da Saúde apontam um maior número de mulheres que tentam, mas são os homens, por optarem por métodos mais violentos, quem mais chega ao fim. 

Homens jovens negros com baixa escolaridade são as principais vítimas. Há grande recorrência também em comunidades rurais fortemente impactadas pela pulverização de agrotóxicos.
 
“O que faz que uma pessoa queira destruir aquilo que ela construiu ao longo da vida?”, questiona a suicidologista. “É a única maneira que ela encontrou para ter a sensação, mesmo que utópica, de que ela tem o controle da situação.”
 
O mundo pesa, os problemas se amontoam e, nós, sozinhos, por mais que tentemos, não conseguimos ver saída. Mas precisamos ser fortes, ou pelo menos, somos induzidos a pensar assim. 

Abrir o coração soa como fraqueza e contar sobre meus problemas só vai levar perturbação para os outros. Assim, nos fechamos em desalento. Sem perspectiva de dias melhores, morrer soa como a única opção.

 “Falando de prevenção, a gente vai precisar ajudar as pessoas, primeiro, a entenderem os problemas dela. Vamos fazer um acolhimento dos sentimentos. Os problemas são temporários, mas a pessoa não entende isso”, explica Fukumitsu. 
 

O que define o comportamento suicida?

Há algumas características em comum entre pessoas que buscam o suicídio, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. A ambivalência - a pessoa não quer se matar, mas sim colocar um fim naquilo que está provocando o sofrimento. O pensamento enrijecido - a noção de que é tudo ou nada, não há alternativas.
 
Outra característica é a impulsividade. Não que todas as pessoas que se suicidam sejam impulsivas, explica a suicidologista. “Quando está em uma situação de desespero, desamparo e desesperança, a gente começa a ver que a pessoa começa a pensar na morte como uma possibilidade. E no momento em que essa pessoa não consegue refletir mais a respeito de seus problemas, num ato de desespero, vem o suicídio. Por isso que a gente fala que uma das características é impulsividade”
 
No entanto, não é possível generalizar. Apesar de ser um processo individual, traz o eco das questões culturais e sociais, que acaba impactando como a pessoa lida com suas desarmonias e conflitos. 
 
“Principalmente durante a pandemia, o que a gente vê são pessoas que não conseguiram ter interação. Eu acredito muito que quem não explode, implode. Por isso que a gente tem que encontrar maneiras de escoamento. Realmente colocar para fora.”

LEIA TAMBÉM: Os impactos da pandemia para a nossa saúde mental

Como ajudar?
 
Falar sobre tristeza, raiva, desejo de vingança, ódio, não é fácil. Em geral, não são assuntos muito bem-vindos e as pessoas acabam envergonhadas de expressar. “São exatamente esses sentimentos que a gente precisa ajudar a pessoa a trazer à tona, a compartilhar, e que isso dá um alívio.”
 
Esse papo pode ser com um amigo, companheira, familiar ou, na ausência de todos esses, o engenheiro Antônio Batista pode ajudar. Com 68 anos, faz 21 que acumula a função de atendente voluntário do Centro de Valorização da Vida
 
“Falar é uma necessidade humana. Quando estou com alguma dificuldade, alguma angústia, e eu não me expresso, aquilo fica me pressionando. Como se estivessem ocupando os meus pensamentos e sentimentos”, diz Batista. 
 
“A medida que eu encontro um ambiente em que consigo falar sem crítica, julgamento, ou qualquer tipo de preconceito, eu começo a olhar aquela dificuldade com outro olhar. “
 
O benefício é mútuo. “Ao me colocar à disposição para conversar com uma pessoa para compreendê-la, ouvi-la, começo a desenvolver dentro de mim uma autocompreensão, uma autoaceitação”, revela. “Nós não somos muito diferentes de todas as pessoas. A única diferença é que eu estou do lado de cá da linha, oferecendo a minha compreensão, meu acolhimento.”

Uma troca que deve ser estimulada durante toda a vida, com a estruturação de redes de apoio. “Acho muito mais legal do que só se colocar à disposição”, diz a suicidologista Fukumitsu. “Todo mundo passa por fases de escuridão. O que você vai fazer quando você estiver em escuridão? Você pode combinar com as pessoas de se procurarem nessas situações. Vamos juntos tentar entender o que você não consegue resolver. Juntos podemos tentar uma saída, uma solução.”

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